domingo, 15 de setembro de 2013


—   O que você encontrou nele?   —  perguntou-me um bêbado em um bar à noite.
A minha cabeça emanava infinitos momentos em que me vi deitado ao lado de outros homens, e de outras mulheres, e de outras pessoas; eles gritavam gemidos, gozavam aflitos àquele momento criminoso ao meu lado. Alguns destes homens abandonavam suas esposas para poder provar qualquer bebida que um garoto como eu podia oferecer. Algumas mulheres buscavam em mim uma espécie carnal de vivacidade, coisas que só garotos como eu possuíam na saliva. Lembrei-me de alguns rostos, flashs, poses, curvas e formas. Lembrei-me do sexo que eu procurava e da culpa que eu bebia sempre que chegava a minha casa a encenar mais um teatro para a minha família: a de ser outro eu, um eu inocente que eles queriam que eu fosse. E para me embebedar mais dessa culpa, gostava de inventar histórias. Não bastava omitir que eu os traia com outros seres, em outros camas, não!, isso não bastava. Eu tinha que criar uma nova vida, um novo poema de um dia diferente do que vivi. E eu gostava disso. Eu já ia para um novo encontro preparado para criar uma nova história do que eu não iria viver, de uma aula que eu não iria assistir e de um filme que não iria ver. Quando dizia que assisti a um filme com algum conhecido, (na verdade estava em outros chãos, em outros braços) havia de procurar um nome de filme para oficializar minha mentira, até narrei cenas de filmes que eu não vi. Era um jogo. Um jogo de detetive, eu era perseguido. Enquanto procuravam por mim, fazia questão de esconder todas as pistas, e, às vezes, deixava algumas pegadas de propósito no caminho a fim de tornar a vida mais excitante. O fluxo de pensamento que me penetrava foi interrompido pela repetida pergunta: “O que você encontrou nele?”
— É que eu estava novamente em busca de novas pernas e não estava preparado para encontrar alguém às alturas. Quando o vi pela primeira vez, ele me acendeu uma angustia e uma solidão que sempre estava presente depois de ir embora de uma casa a qual não mais voltaria. Era uma saudade. A diferença é que eu não o conhecia, mas ainda sim a saudade ardia de maneira como eu o conhecesse. Sabe? Eu não sei. Isso é estanho... Enquanto meu corpo dizia estar em busca de prazer, eu tinha a curiosidade de entrar em cada um em busca de um pouco de amor. Acho que eu sobrevivia com um pouco de cada amor de cada um dos milhares de amores que um dia eu tive. Quando encontrei essa fonte de sobrevivência, soube na hora: não poderia deixá-lo de lado. Não poderia ir para o orgasmo só uma noite com aquele rapaz. Eu queria poder oferecer a ele minhas histórias, minhas verdades, minhas horas. Eu não o conhecia, mas tinha uma vontade enorme de conhecê-lo. E dividi-lo e me dividir-me com ele. — com um suspiro, continuei — Não era apenas aquela boca carnívora que me envenenavam, eram as coisas que saiam delas, eram as coisas que saiam dele e encostavam-se a mim. Conversar com ele era como estar em com sol em um dia de muito frio, eu não queria sair do lado dele, mas era necessário porque eu poderia me queimar. E então ele foi embora e o eu fiquei esperando o dia em que ele voltaria para continuar aquela conversa que havia sido tão prazerosa...
O bêbado não mais prestava atenção, ele estava tendo uma overdose por tantas drogas que havia cheirado naquela noite. Tive que ajudá-lo, então o levei para a minha casa para que pudesse repousar. Dividimos a minha pequena cama, dormimos juntos. Quando acordei, o bêbado tinha ido embora e havia um bilhete sobre a minha mesa:
“Venha. Mas não guarde lembranças destes meus olhos bêbados e da minha língua perdida. Quero poder entregar a você um pouco de conhecimento, verdade e companhia. E que não tenhamos apenas prazeres momentâneos, que encontremos amores para a vida. Estou a sua espera. E de mais histórias, mais mentiras, mais vidas e sobrevidas... e de um pouco mais de luxúria, arte e poesia.”
E como um espião, eu saí de casa. Disposto a procurar por todos os lugares aqueles olhos bêbados. Um gole esperançoso passou pela minha garganta. Aqueles olhos estavam perto.

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