segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O café e o uísque.



- Tudo bem, Você? - perguntou a mim assim que nos encontramos naquele pub alternativo.
- Estou ótimo! - e mostrei um sorriso. Eu não estava bem, muito menos ótimo. Era mentira, eles não sabiam disso, não sabiam que a minha mãe estava internada a 3 dias no hospital e os médicos não viam sinal de melhora, não sabiam que eu estava a um triz de perder o emprego, não sabiam que o casamento estava chegando ao fim e que minha mulher me traia com o seu colega de trabalho. Não sabiam que eu não acreditava no amor, aquele mesmo que me fez chorar muitas vezes.
- Sim, estou ótimo mesmo e você? - Reforcei.
- Ah, tudo está na mesma, os filhos continuam dando trabalhalho, e ainda falta dinheiro no final do mês.
Eu tomei café, ele tomou um whisky, falamos sobre a vida, falamos sobre os filhos dele, falamos sobre o meu divórcio e sobre os planos que eu teria agora, ou a falta de planos...

Nós falamos sobre tanta coisa, mas não falamos sobre nada. Tocava uma música do tempo em que a MPB era feliz e não sabia. No fim, o café desceu amargo pela garganta limpando as palavras que nunca seriam ditas a ele. No fim, o whisky o embebedou de ilusão. Nos despedimos, e mostrei novamente meu falso sorriso. E vi que o sorriso dele foi exatamente igual o meu. Então veio o sinal de adeus.

Foi com o olhar dele no meu que eu vi que não era essa uma amizade. Era as nossas bocas que queriam estar juntas, era as nossas sombras unidas pela pelumbra, da solidão, das escolhas mal feitas, dos enganos e desenganos. Ele sabia que eu queria aquele seu sorriso no meu. Mas nós dois sabíamos que isso era impossível de acontecer.

Nós dois sabíamos que café e whisky  só ficam junto em um Irish coffee.


OBS:  Eu estava cansado daquela sobriedade, só queria saber se um dia iria poder provar daquele Whisky.



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