quarta-feira, 11 de abril de 2018

Grato por vós seguirdes uma rotina.
Grato por acordardes, trabalhardes, dormirdes.
Grato por serdes felizes.
Grato por irdes à igreja.
Grato por serdes sonhadores.
Grato por quererdes dinheiro.
Grato por revolucionardes.
Grato por terdes regras.
Grato por arrependerdes.
Grato por serdes donos da verdade.
Grato por não serdes notórios.

Isso fez-me escritor.
Contudo decidi ser mais que isso.
Decidi grafar a vida e mudá-la absoluta.
Só teria graça uma minha vida que se confundisse com a literatura.
Aprendi-o tarde.


Achava que depois de dedicar-me aos estudos
saberia por que vivo e que quero.
Aprendi, não obstante, que não posso ter a Razão.
(Posso não ter Razão.)
De que forma poderá a Razão existir se não há consensos?
Não havendo consenso, não existem verdades.
Não há justiça uma vez que verdades não existem.

Minhas poucas razões desapareceram.
Conclusões já não faço.
Não sei mais se a felicidade importa.
Nem vejo o óbvio: a tristeza na tristeza.
Só consigo achá-la maravilhosamente linda
de tão verdadeira que é.
Só consigo apaixonar-me por rasuras,
por erros e indefinições.

Só consigo ser grato, porque sou o oposto.
Grato por serdes iguais.
Grato por serdes sempre justos.
Sinto-me menos culpado, agora, por me ver um pouco mais injusto.

Interromper-se-ão vossas rotinas.
Uma barbárie por mim será feita.
Vereis em breve essa minha obrigatoriedade de intervenção.

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