terça-feira, 4 de setembro de 2012

Prisão.

Escrevo da prisão. Uma reclusão como esta, apesar de possuir alguma beleza (a parede na qual escrevo), não é agradável. Estou a morrer, porém, não só morro eu, como também outros morrem. Esqueci-me de estar bem. Preocupei-me com os outros. Ninguém veio cuidar de mim.

Os outros dormem. Dormem no meio da sujeira e dizem que é confortável. Dormem no meio da sujeira confortável que colocam pra matar gente. Ninguém sabia disso, todavia eu descobri, pois sou cientista. Eu fui cientista e não poeta corajoso. Então, embora eu soubesse do veneno, continuava a deitar sobre ele. E eu, às vezes, me cobria com essa sujeira numa tentativa de avisar aos policiais: "Olha, vê isso, estou fazendo o que queres." Eu tinha medo de ser morto por morte matada. Nem me preocupava com a morte morrida.

Estou doente. A cada minuto morro. Não tenho esperanças de que alguém venha a adquirir alguma consciência. Acho que não. Mas então por que escrevo? Escrevo da prisão, porque morro. E, como sou covarde, continuo a me enrolar na sujeira, respirando-a, comendo-a, engolindo cada pedaço dela.

Foi então que.

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Relato de um homem que assistiu à cena.

Ele escrevia tanta sujeira que, por isso, morreu. Uma vez, vi que ele se masturbava. E aqui ninguém faz isso. Ele fez. Não recebeu uma boa educação. Dizem que ele lia Marx. Como queria ele, tão abusivo, sobreviver?

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Relato de um homem que assistiu a cena.

Só cheguei perto dele porque ouvi um barulho. Tinha escutado um grito. Ele estava babando quando o vi. Primeiro momento, tentei ajudá-lo. Pensando melhor, desisti. Ele fingia ser como nós, contudo não enganava ninguém. Deus estava cansado de gente como ele neste mundo, se Deus não tivesse o matado, tinha feito com as minhas próprias mãos.

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E o final do escrito.

Foi então que senti tanto prazer. Prazer de ir em boa hora. Todo covarde só se sente bem longe do medo. E eu tinha ido embora. Tinha ido viver qualquer coisa que não fosse isto. Só a morte era liberdade em uma prisão que chamavam de vida.

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