Uma confusão na cidade.

Por que somos nós tão babacas? Conversando às escondidas com medo de sermos pegos... Sendo outros nós dois em mil realidades, no virtual, no real e mais onde imaginar... Escondendo nossos problemas quando somos nós que defendemos o diálogo e o compartilhamento de ideias. Devemos ser uns bananões mesmo. Nossa arte é essa. Direitos humanos? Lutamos tanto por essa causa, porém quem somos nós para não termos nem humildes direitos? Somos presos. Queremos liberdade sexual, mas nos contentamos com este teatro de alegorias. Transando em motéis distantes, transando em lugares desertos... Quem nós somos quando não podemos ser nós perto dos outros? Não era a gente quem levantava a bandeira da nossa vitória? Por que não conseguimos ser honestos um com o outro e com os outros? Ser tão complicado assim é fácil. O difícil é ser qualquer coisa. O difícil é ser diferente. Estar tudo bem nunca significará que está tudo bem. É uma farsa. Não estamos bem enquanto não pudermos ser. Enquanto precisarmos de um predicativo do sujeito para todos os nossos verbos de ligação, isso não terminará bem. E isso não poderá terminar bem.

 Precisamos largar nossas roupas, largar nossas proteções. Precisamos que o sol incida sobre nossas peles nuas, e que a beleza possa, então, nos infiltrar. E sermos sal para tanto mar, boiando nas ondas, esperando a luz entrar e o sol se alojar em nossas respirações. Isso é viver. Estar vivo é isso. Quando nossas almas se confundirem com a natureza saberemos o que é estar vivo. É magnífico. É um espetáculo nada humano. Sentir a areia tocando nosso sexo e gozando nossas águas marinhas. É maravilhoso. Maravilhoso ser-vivo em vez de ser-humano.

Uma pena. Continuamos mesquinhos. Nossa cama acordará às 6h amanhã. E a aula fingirá estudar às 7h. O almoço será engolido às 13h. E o dia passará depressa como em qualquer cidade que finge viver. A praia continuará refletindo o céu de luz. E o tempo continuará correndo para fingirmos mais um pouco. O sexo continuará proibido. Os animais continuaram pastando e metendo. Ser animal nunca foi um problema.  O problema é ser humano.