Os fatos, na minha cabeça, vieram à tona. E eu me sentia num conto claricense. Eu fui cada um dos seus personagens por uma noite. Eu fui o louco, a velha, o assassino. Eu fui Clarice.
Eu estava no caminho, o encontro era na Rua da Felicidade, eles esperavam por mim.
Eu andava feliz, ansioso, as coisas estavam dando certo, e eu pensava como as coisas sempre davam errado na minha vida, como sempre eu trocava os temperos, e como sempre eu perdia meus livros. Continuei andando despretensiosamente. Foi então que eu me dei conta: eu estava atrasado. Corri para não deixá-los esperando. Passei pela Rua do Desapego, já havia estado lá por um tempo. Passei pela Rua da Solitude que se bifurcava em Rua da Loucura. Onde estava a Rua da Felicidade? Eu estava perdido. Eu precisava de um telefone.
Havia uma tabacaria ao lado. Entrei. O cheiro de cigarro perfumava o cômodo. Perguntei se tinha telefone. Responderam que tinha. Abri um sorriso instantâneo, agora só ligar para uns de meus amigos e perguntar onde ficava essa bendita rua. Ao tirar o telefone do gancho, não havia números para serem discados, porque não havia amigos. Ou não havia amigos, logo não havia números.
"Acho que ter consciência faz de nós infelizes" - cogitei.
Então foi com uma enorme coragem que eu deixei, enfim, de ser "aquilo".
Porque autobiografar Clarice me doi, seus personagens sempre tiveram o mesmo destino que eu. Este era o de não ser. Ou de ser, justamente, em excessos.
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No outro dia, ao olhar os Classificados do jornal me deparei com o seguinte anúncio:
Belíssimo casebre mobiliado com uma cama da luxúria e um jardim para ser cultivados os amores de uma vida toda. Localização na Rua da Felicidade, bairro: Clandestina.
A ironia é que eu fui e comprei.

Augusto, oi.
ResponderExcluirEu vi seu comentário num post do blog da Lola e o que vc escreveu me tocou de forma especial, porque me identifiquei com vc, principalmente com o que vc vive, na idade em que vive. Não vou falar mto aqui, só queria entrar em contato contigo, se vc quiser. Só queria dizer também que PASSA, sabe a campanha It Gets Better, dos EUA?? Pois é, é verdade! As coisas melhoram mesmo. Tenho 26 anos e vc não imagina como a minha vida melhorou, dos 17 pra cá.
Mas, enfim, queria ter a oportunidade de conversar contigo. Por isso deixo o meu email aqui, se vc se interessar em entrar em contato? lorena.uceli@gmail.com.
Um abraço e espero que vc fique melhor.
augusto, também vi seu comentário no blog da Lola... adorei sua coragem, sua facilidade para se expressar!
ResponderExcluirforça, augusto! você vale ouro.
adorei o texto! e realmente, "Acho que ter consciência faz de nós infelizes".
abraço forte!
Bom, também vi seu comentário no blog da Lola e queria dizer que você não é o único a passar por isso. Eu também sou gay e também passei por todo esse processo de abrir os olhos. Na verdade, tenho até um pouco de inveja de você pois isso me levou um bocado mais de tempo. Queria eu aos meus 17 anos ter a cabeça e a eloquencia que você tem. Parabéns.
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