segunda-feira, 5 de setembro de 2011

E hoje eu escrevo para mim.



Augusto,

estou te escrevendo hoje pelas (in)coerências e suas insinuações. Estou escrevendo porque é o homem que eu aprendi a admirar não-importa-o-que. Obrigado pelas horas (ás vezes, semanas) em que pude dividir minha solidão com você. E quando nós, deitados na cama, desfrutávamos daquela melancólica música,(...) eu sabia que você não estava fingindo quando cantava gritando "save my life, can you hear me" (Salve minha vida, você pode me ouvir?), você queria ser salvo mas acabamos vivendo nas pontas dos dedos por um longo tempo.

É estimulador quando vejo o quanto aguentou até agora...  Tem aguentado um longo tempo... Quando você tinha 6 anos tentou arduamente crescer, se encaixar com os seus primos mais velhos, você sonhava em ser adulto, parecer adulto, e se casar e ter filhos, desencorajador quando percebeu que isso não passava de uma quimera.

Eu te conheço, e me espanto, porque cada dia que passo com você, mais eu te amo. Conheço cada parte do seu corpo. Ás vezes delicado, outros dias forte e rude. Passei grandes tempos pela sua perna, seu corpo, seu braço. Sua pele branca e escassa que mostrava o quão difícil foi sua trajetória. O excitamento era o cotidiano. (...) O orgasmo vinha junto com a razão. O gozo era o sinal de etapas cumpridas ou o consentimento que fizera a coisa certa mesmo que não tenha dado como o planejado.

Você tentou tanto se encaixar dos 7 aos 16. Eu só queria te dizer que tudo iria ficar bem. Você errou, você arrependeu, e aprendeu. Você tinha que passar por todos essas frustrações, você tinha que quebrar a cara (e quebrou até demais), você tinha que perder tudo. A pessoa que você é hoje é formada por todos os caminhos que você não percorreu, e por todas ás vezes que preferiu parar, e por todas as noites mal-dormidas.

Você é rude, grosso, escroto, imbecil, bruto, estúpido, ignorante. Nossa, como eu amo você. Amo por você ser tão idiota, e me fazer perder noites de sono me (re) escrevendo. São seus defeitos que o torna tão apaixonante. Suas recaídas na bebida e sua mania de sempre acabar com a festa de todos. E você sentia prazer em estragar todas as festas, seu cara-de-pau, você amava ser o centro das atenções, e se vingava quando algo dava errado. Deveria te odiar, mas eu te amo tanto que até pensei em desistir de tudo por você.

Homens e mulheres (não meninos e meninas), bebidas, sexos, nexos, complexos, prazer, sujeira é tudo que você quer hoje. Vá em frente. Você nasceu para amar e viver intensamente mesmo que isso te destrua. Só eu sei o quanto você tem sido honesto o tempo todo... Vá em frente e beba mais um gole daquela bebida escura que desce queimando a garganta. E acordar numa estrada sem se lembrar de nada.

Você suportou tudo até agora, e o mínino que eu posso fazer, em honra a você, é me jogar do viaduto. Era esse o nosso plano, nos perder em meios de carros e só deixar a saudade que iria ficar eternizada naquela rua cinzenta. Hoje, decidi me jogar do viaduto. Me jogar para a felicidade.

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